Dos diários de Lucy, possuidora de leve tendência à galhofa
Paris, 1968


.das malditas geléias finas

E que falta faz um homem na vida da gente, as dez da noite, em casa. Tava desejando, com sofreguidão, uma geléia de laranja que comprei. "Geléias finas", saca. A grande sensação, tinha fiapinhos de casca de laranja imersos na geléia cristalina, slurp.



- Mas cadê que eu conseguia abrir a droga do vidro?!?!

Óbvio que transmiti ao vivo esse evento, pra uns três amigos na Internet. Um deles, indignado, exclamou "ahh, mas então nós homens só servimos pra isso, é?". Eu bem sei que não. Mas minha noite seria salva, se me abrissem o pote de geléia FINA de laranja. Vidros de geléia são assim mesmo, difíceis. Deve ser pra ver se a gente se apaixona, só pode. Pois eu tinha comprado no Pão de Açúcar os biscoitinhos light da Lucila Diniz pra acompanhar a geléia fina e light da Lucila Diniz e tudo, com o salário. Chego toda feliz em casa, ansiosa... tsc. E... que puxa... [chuta uma pedrinha no chão]. Um parêntese. Sou dessas pessoas que acordam com vontade de comer ricota ou filé de peixe grelhado com molho de ervas finas e... arroz de brócolis. Posso ser considerada normal?

Enfim. Mas SUEI, tentando abrir o vidro. Tentei panos, facas, água quente, a tonga da milonga do kabuletê, uma série de instrumentos... tudo em vão. Taqueopariu. Era meu crepúsculo. The rise and fall. Foi uma situaçãozinha ridícula para a já combalida Lucy, chegando do trabalho faminta. Adoro as surpresas que o destino nos reserva. Você já está devidamente suada, a camisa com uma mancha de suco, o cabelo virou um ninho, a tirinha da sandália quebrada, a conta do Bradesco cancelada. Precisava MESMO não conseguir abrir o pote de geléia? Não, não, não E não. "Você pagou pela vida que tem", é o que sempre ouvi durante minha dura infância no Kansas, man.

Mas agora vamos estender essa pequena parábola a uma hipotética vida sozinha, em um apartamento lindamente decorado, longe dos pais, far far away. Sério. E se eu morasse só, como ia ser?!?! Chamaria o encanador, os bombeiros, os paramédicos, o marcelo anthony, só pra abrir minhas geléias e vidros de azeitona? Ou não poderei comprar geléias finas? Essa é a conclusão? É humilhante, perdi meus valores e acabaram meus anseios de independência.

E é porque nem fiz conjecturas a respeito das baratas nada hipotéticas, que aparecem sempre a noite. Barata que é barata não aparece domingo a tarde, quando o papai tá em casa.


.pet sounds

E aquele povo da TV União [Nível who the hell de desconhecimento: não sei o nome de nenhum] falando com sotaque paulistinha, tipo MTV? Eles dizendo "pô, meu", chamando a galera de "ei, véi". É bizarro. A galera nasceu em Sobral, no Crato, em Fortaleza, e fica falando que o vídeo "é da hora". Eu mereço.

Falando em sons, a nova onomatopéia do dia são as gaivotas voando no silêncio:
- Aá, aá, aá!


.humano, demasiado humano

a. Com pressa, doida pra sair do trabalho, e a pessoa não decide, afinal, que sinônimo usar na matéria sobre um apartamento funcional, despojado e contemporâneo. Era uma da tarde e claro que, pra variar, eu estava faminta. E trabalho ao lado de um movimentado pólo gastronômico da capital. Os chineses deviam estar pensando em uma situação como essa, ao inventarem as torturas que levam seu nome. Então. Eu, que tenho o hábito de criar duas versões para todos os meus diálogos [o que eu disse delicadamente e o que eu GOSTARIA DE ter dito]...

- Aaaaai, que dúvida, Luciana. Você acha que esse ambiente é "sem excessos" ou "clean"?
- Teu rabo?
- Como?
- Nada. É "cool".


b. Enquanto isso, no ônibus, um diálogo entre cafuçus.
- Mulhééé, onde tu comprou esse celular? É SHOW!
- Meu FLIPER? No crediário, lá no ÉXTRA.
- BATE RETRATO?
- Claro, óóó!
[e começam a se fotografar com-pul-si-va-men-te, bem na cadeira da minha frente]


c. A moça que se lembrava de mim, lá do curso de jornalismo, me encontra numa palestra.
- Luciana, é você?
- Oi! E aí, mulher, como tão as coisas? [sem idéia do nome da criatura]
- Cara, vou tentar mestrado também.
- Que bom, se quiser ajuda, viu. Posso te arrumar uns bons livros, me liga.
- Ô, vou querer mesmo! Brigada!
- Ei. Mas cara, lembro mesmo de ti, do jornalismo. Teu nome... teu nome começa com R, né?
- QUASE. É Benedita.
- Ohohoho. [vergooooonha, senhor!]


.Porque amo o ELVIS.
Furor, êxtase, luxúria. Suor.
Vejam essa jogadinha de quadris pro lado.




.please mr. postman



Serviço de utilidade pública. Sempre que forem enviar encomendas pelos Correios, levem um pouco de plástico bolha ou um papel decente que possa ser amassado. Explico. Gravei um cd escândalo e lindo de morrer, com capinha, encarte e tudo mais, pra um graaaaande amigo meu de Sampa. Daí, fui mandar pelo correio e eles só têm caixas grandes, folgadas para um cd apenas. Daí, a moça socou um guardanapo, um saco velho e sei mais lá o quê, dentro da caixa. Tudo o que estava debaixo da mesa dela, sobrando, ela empurrou pra dentro do pacote. Sem crer, eu não podia crer, fiz mó cara de espanto, de "nããããão... nããããooo...". E ela disse: "É pro cd não balançar, minha filha". Nem deu tempo de protestar, ela já tinha fechado a caixa - que era fashion, por sinal.

Imaginem a pessoa recebendo um presente seu, morta de alegre, abrindo a caixa linda e dando de cara com uns guardanapos velhos e amassados. A gente paga uma nota pra postar e o povo não tem sequer um plástico bolha bacaninha pra fazer volume.


.só uma lembrancinha

Como vocês já sabem, sou agente de viagens e mochileira enrustida. Faço reservas, orçamentos, pesquiso e monto roteiros, sei até que roupas levar. Tudo, tudo. Todo dinheiro que cai na minha mão, aplico em viagens. Deve ser por isso que ainda moro na casa dos meus pais e sou dependente deles até para matar baratas metafóricas e hipotéticas.

Enfim. Mas esses anos de mochila vêm me ensinando coisas legais, como a escolha certa no momento de comprar souvenirs bacanas para você mesmo, a família ou o maridão. Tipo, eu curto coisas úteis. Cinzeiros, camisas, rendas, garrafinha de areia colorida [com exceção de chaveiros], caixinhas, miniaturas, redes bacanas, sandálias étnicas, postais, bolsas, cerâmicas, tudo com o nominho do lugar. Isso é IN.
No quesito OUT estão as peças de arte local com gosto certamente duvidoso, como esculturas em durepoxi e coco seco, prato de parede com a foto da pessoa no cristo redentor, desenho da pessoa feito a lápis no calçadão da beira mar - o nariz sempre é tããão estranho..., bicicletas e qualquer outro objeto feito de arame entortado, colares de palha, brincos de conchas e penas, cachaça com caranguejo ou caju dentro da garrafa.
Já no grupo das coisas OUTÉRRIMAS estão as saídas de praia em tye dye, aquelas manchadinhas - porque tye dye é cativo desse grupo -, boné bordado, coisas em ponto cruz e as camisas desmanteladas com frases engraçadinhas sobre bêbados, cornos e/ou performance sexual.

Um dos mais graves fatores de risco, no entanto, é o ato de disponibilizar essa variedade de coisas feias para os gringos que, em sua maioria, possuem uma total ausência de critério seletivo para roupas e acessórios. Nada me faz mudar essa opinião. Vocês já viram como eles se vestem? A galera acha que, só porque está viajando, pode se vestir bizarramente, e os habitantes locais não vão reparar. Claro que reparamos! Tolinhos. É que nem o povo que vai pras cidades frias, não tem agasalho e acha que, se colocar três calças e umas 4 camisas de botão sobrepostas, vai ser encarado com naturalidade nas ruas.

- "Quem te destrancou? De que planeta você veio? Essa roupa é sua ou foi a produção que arrumou?", é minha vontade de perguntar aos forasteiros vítimas da moda.


[...]


Ando procurando blusinhas de babados nas lojas.
Isso é algum sinal? Anyway, esse vídeo é lindo.

- A quoi ça sert l'amour?




oasis, masterplan